quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Viagem à Chechnia

A semana passada fui convidado para ser um dos membros da equipa de filmagem da empresa PlanetPics, empresa russa de audiovisuais, para um projecto no mínimo diferente. (MAIS FOTOS NO FIM DO TEXTO) O convite foi muito directo: Queria-te propor vires filmar connosco para a Chechnia. Depois dos conflitos armados, da morte de líderes separatistas que queriam a independência dessa república, a “colocação” de um líder “pró-Moscovo” no poder, as coisas parecem ter ficado mais calmas. Eu decidi ir, e 8 dias depois estava num avião da companhia aérea Cosmos (Космос), que partia de Moscovo para Grozhni, capital da República da Chechnia (Чеченская Республика ). A viagem de Moscovo para Grozni dura cerca de duas horas. No aeroporto, fomos recebidos na rua, sem nunca entrar no hall, por vários mini autocarros, que carregaram literalmente dois aviões cheios de pessoas vindas de todo o lado, atletas, músicos, artistas vários, equipas técnicas, etc, para o hotel Grozny City. 5 minutos dentro do minibus, e chegamos ao hotel de cinco estrelas. No hall passeiam-se trabalhadores da casa que servem sumo de laranja aos convidados. Normalmente na Rússia, este tipo de recepções são feitas com champanhe e caviar, e não foi por falta de verba que esta não foi. A República da Chechnia é de uma maioria muçulmana. No dia seguinte pela manhã partimos para o local do evento. Segundo as primeiras informações que recebemos, do hotel até lá, levariamos cerca de 40 minutos. A viagem durou quase 3 horas, por estradas de montanha, com visibilidade reduzida, numa carrinha cheia de equipamento e pessoas. Tudo parece estar bem na Chechnia, mas as estradas contam outra história. A cada curva, pequenos grupos do exército, armados com metralhadores, e a cada “não sei quantos quilómetros”, um “check point”, onde o motorista é mandado parar, o carro é “mais ou menos” inspeccionado, os documentos são verificados. Depois de 3 horas, saímos do minibus, e entramos num camião “Ural” do exército. Na traseira do camião vão cerca de 15 homens. As mulheres vão à frente com o motorista. O caminho é absolutamente impossível para um veículo urbano normal, e difícil para um 4X4 regular. Mais um “check point”, e chegamos finalmente ao local, depois de 35 minutos a ser abanados pela montanha. Na “entrada” para o recinto do evento, mais um “checkpoint”, onde somos todos revistados. As câmaras fotográficas profissionais só entram no recinto se derem provas de funcionar, não vão conter uma bomba disfarçada lá dentro. As condições de trabalho são difíceis. A cerca de 3500m te altitude, o oxigénio não é muito abundante. O frio não é, com toda a certeza, um bom amigo. As infraestruturas da organização são também muito fracas. Apenas 5 casas de banho portáteis, e acredito eu, mais de 1000 pessoas envolvidas na produção do evento. A comida é preparada por um pequeno grupo de chechenos, que se depara com problemas sérios em dar vazão a tanto pedido. No local encontra-se também uma pequena equipa de enfermeiras (3), e exército, polícia, exército, polícia, exército, polícia, exército, polícia. Tudo fica preparado para o evento do dia seguinte. Vai-se para o hotel dormir 2 horas, e volta-se na manhã seguinte, pelos mesmos caminhos, etc etc etc.... O evento acontece, e no dia seguinte, escolta policial para o aeroporto, onde somos entrevistados pela televisão local. Mais uma vez, a infra-estrutura do aeroporto da cidade, que não está habituado a ter muitos visitantes, vê-se a braços com mega problemas logísticos. Gostava de poder visitar Grozni sem escolta polícial, sem restrições de locais para onde ir, e o que fazer, poder fotografar na rua do lado de fora do carro, mas parece que vai ter de esperar uns anos, pois pelo que vi, ainda há ecos de problemas que ressoam na cidade e se espalham pelas montanhas do Cáucaso. Há detalhes interessantes que ficam por contar, mas a vida é assim. Ou se vive ou se vê viver. Este evento destina-se a promover uma nova estância de desportos de neve neste mesmo local. Para saber mais, ler em: http://lenta.ru/articles/2013/02/28/veduchi/

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